sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O gênio de Mário Ferreira dos Santos - II



(...) "A elevação do homem só pode dar-se pelo caminho da purificação da vontade, do entendimento e do amor. Há necessidade aí de uma catarse constante. No segundo grau deve ele prosseguir se libertando de tudo quanto vicia o que é de mais elevado no homem: a vontade, o entendimento e o amor.

Vimos nos comentários de Hiérocles que é este o sentido da sua interpretação e é a de todos os grandes pitagóricos, ou seja: somos um ser capaz de atingir os graus eminentes, hierarquicamente superiores na vontade, no entendimento e no amor; por isso não há um pitagorismo que se cinja apenas à conquistar a liberdade, porque a liberdade sem ser assistida por um entendimento são e por um amor puro, será imperfeita. Não é apenas cultivar o entendimento pelo saber, porque o saber sem uma vontade livre, já libertada e isenta de paixões e sem um amor purificado, servirá mais para o mal do que para o bem. Da mesma forma, o amor não pode ser apenas um anelo intenso de um bem ou de algo desejado se não for assistido por uma vontade livre e por um entendimento purificado porque, do contrário, tudo isso em vez de aproximar da Divindade, dela nos afastaria. O satanismo também pode atingir uma vontade livre, um entendimento elevado e pode ter um amor intenso nos mais altos graus, mas será uma vontade desviada para bens que não dignificam o homem, que não o elevam. Será um conhecimento que não tende para as realizações superiores, será o amor dirigido não para aquilo que eleve, mas sim para o que deprime. O grave erro foi julgar-se que bastava apenas uma vontade livre, um grande saber e um intenso amor para que o homem atingisse a sua perfeição. Não! É preciso que essa vontade seja livre das paixões e dirija-se para o bem que o entendimento ou a inteligência escolheu, e o amor deve estimular e unir tudo isso. Devem juntos tender para o alto, para o superior, do contrário esse homem, em vez de subir a escala da perfeição e aproximar-se das virtudes divinas, permanece com virtudes humanas, que os tornariam poderoso, no campo do mal e não no campo do bem. Esta distinção, a nosso ver, é muito importante.

Pitágoras e seus discípulos observaram em todas as crenças (sobretudo ele que viajara e vira os mais diversos povos) os homens prestarem homenagens aos deuses mais estranhos, porém sempre notou que tinham um anseio maior ou menor de perfeição. Se seguiam vias erradas era devido a verdade não estar bem assistida pelo entendimento. Se o ódio, às vezes, dominava, era porque o amor se desviara e se tornara ódio para tudo quanto impedia a conquista do bem por eles julgado superior. Compreendeu, então, que nem todos os seres humanos são capazes de percorrer esta via, que é a iniciação, de entrar neste caminho e passar as etapas para alcançar, enfim, a perfectibilização constante da vontade, do entendimento e do amor. Era assim preferível que estes pelo menos prestassem aos deuses o culto consagrado e guardassem cuidadosamente a sua fé. O trabalho dos pitagóricos teria que ser lento e oculto, no maior silêncio. E por que? Porque como poderiam eles ir às multidões e dizer: “A vossa crença é apenas temor, terror; vós não praticais o mal porque temeis os castigos que a religião vos ameaça, vós praticais o bem na esperança de obterdes vantagens. Estais errados, tendes, sim, que seguir outro caminho.” Essa atitude dos pitagóricos não seria absolutamente construtiva, seria perniciosa! Favoreceria o ateísmo (cujos estragos foram e são terríveis na História...) daí que, em primeiro lugar: preparar homens para que se tornassem amanhã os mestres de uma juventude que, por sua vez, quando adulta, fosse capaz de multiplicar o verdadeiro conhecimento; e que pudessem resistir à invasão das falsas idéias que assolavam as escolas e ameaçavam subverter o pensamento. Deste modo dar um conhecimento profundo, permitindo que o homem atingisse as realizações perfectivas superiores, tornando-se semelhante à Deus.

Esta era a única solução e, ainda hoje, o é! Tudo mais tem malogrado porque não podemos deixar de considerar esta verdade: a maioria dos seres humanos não tem o conhecimento suficiente, não possui os meios necessários para compreender a grandeza de uma vida pitagórica. Não podemos contar com o bem espontâneo do coração humano, porque este é raro ou, pelo menos, o é num grau tão ínfimo que não vence as paixões e os interesses aguçados por aqueles que sabem como explorá-los, para tirar vantagens dos mesmos em seu próprio e único benefício. Eis porque o pitagorismo não podia atuar como atua um partido político, nem como um simples culto que fala às multidões, procurando transmitir algumas idéias. O trabalho deles era muito maior e é muito maior hoje em dia. A construção do homem bom e justo é um trabalho milenar! Se tivesse começado e sido levado em frente, como Pitágoras pretendia, teria dado maiores frutos do que deu. Este trabalho é incompreendido por aqueles que tem uma visão estreita, utópica, quimérica da sociedade, que julgam que basta modificar apenas algumas relações humanas, mudar algumas situações para transformar profundamente e essencialmente o homem. Eles demonstram pouco conhecer a realidade da alma humana, pouco sabem do homem no seu íntimo e não percebem dos graves perigos que todo o ser humano está exposto. (...)"
(SANTOS, Mário Ferreira dos. Versos Áureos de Pitágoras) 

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