sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O romantismo trágico do libertarianismo

O libertarianismo não passa de uma espécie de gnose moderna de matiz liberal.

Desejar um mundo sem governo ou estado, em que pessoas de racionalidade superior viverão num arranjo de liberdade utópica sem quaisquer instituições políticas de poder, é desejar um plano de reforma social que fará hipostasiar o ideal num futuro hipotético. Mutatis mutandis, foi esse tipo de alienação da realidade histórica e objetiva/metafísica que ensejou as revoluções totalitárias do mundo contemporâneo. É o que dá, quando a liberdade é tomada como um absoluto independente de qualquer concepção de ordem. A ordem é o conceito-chave para se entender a sociedade. E a ordem se inspira SEMPRE, de um jeito ou de outro, na ordem transcendente da própria realidade, o que significa dizer, também de um jeito ou de outro, que o fundamento da ordem social é SEMPRE a religião. Isso resta brilhantemente evidenciado nos estudos do grande Eric Voegelin (Order and History), assim como aparece no clássico A cidade antiga, de Fustel de Coulanges.


Russel Kirk assina um belo discurso sobre o tema da liberdade x ordem: http://www.midiasemmascara.org/artigos/conservadorismo/12789-a-tensao-entre-ordem-e-liberdade-na-universidade.html

2 comentários:

  1. Ok quanto a questão religiosa. As religiões sempre serviram de base para justificar alguns no poder em detrimento de outros. Assim: o Faraó é um dos deuses; César era um deus encarnado; Jesus seria Deus encarnado e o papa o seu maior seguidor, etc. Note que não é a religião que em si dá o poder temporal, mas o justifica dando ao poder temporal uma realidade transcendente.

    Mas o seu conceito de libertarianismo está errado. Aqueles que podem irão sempre usar o poder. O que os libertários pregam é que deve haver concorrência entre as entidades que detem esse poder. Daí o fato de falarem sempre em micro-estados ou secessão individual. Chamar isso de minarquismo é apenas outro nome para o mesmo enfoque.

    Abraços

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Vou pular sua parte sobre religião, pois nada ali faz sentido.

      O minarquismo é apenas uma das espécies do gênero Libertarianismo, e não o resume. Veja que nem os 'soi-disant' libertários têm uma posição consensual. É um saco de gatos coloridos.

      Por exemplo. A posição adotada pelo "Stephan Kinsella" é mais restritiva, atendo-se basicamente ao PNE relativo ao direito de propriedade. (retirado do próprio mises.org: https://mises.org/library/what-libertarianism). Já nesse artigo elucidativo do "Rothbard", também extraído do mises.org, o monstrengo ganha um alcance de filosofia política e moral que vai muito além do anterior: https://mises.org/library/myth-and-truth-about-libertarianism). Ou seja, é uma confusão dos diabos.

      Disputa de poder é o que atualmente existe (e sempre existiu) na sociedade. Partidos políticos são um bom exemplo de grupos que buscam implementar seus valores alçando posições de ascendência na estrutura de poder social. Dessa disputa emerge uma posição prevalente que se estabelecerá em governo e lei geral (sendo que o processo legislativo é mais plural e representativo da multiplicidade de interesses e entendimentos que permeiam a coletividade. E não me parece que o libertarianismo, sob qualquer ótica, subscreva esse mecanismo.

      Excluir